É importante conceituarmos as diferenças entre tristeza, luto e melancolia. A tristeza é um estado de humor, que está presente ou não na depressão. Por outro lado, o luto é um momento de tristeza temporária em que a pessoa necessita para elaborar a perda de um objeto amado, que foi introjetado no ego, sem maiores conflitos. Enquanto a melancolia significa que a perda do objeto por morte, abandono, etc., processou-se de forma ambivalente e conflituosa, de forma que como dizia Freud, "a sombra do objeto recai sobre o ego". A sombra do objeto perdido pode ser internalizada indefinidamente pelo ego, resultando em um luto (tristeza) patológico.
A depressão na psicanálise
Em 1914, Freud estudou "a escolha narcisista do objeto" e a depressão anaclítica, na qual o indivíduo permanece em um estado de procura de alguém que venha preencher um vazio da mãe original. Nesse contexto, muitos autores estudaram os comportamentos apresentados por bebês separados de suas mães e verificaram que eles apresentaram os mesmos sintomas de adultos depressivos. O que se observou é que ao lado do luto pela perda do objeto, existe um luto pelo ego e vice-versa. Os sintomas da depressão são muito semelhantes, porém as causas e o grau de intensidade variam de uma pessoa para outra.
A melancolia descrita por Freud é o que conhecemos hoje como depressão. As formas e graus de depressão variam muito entre as pessoas. No entanto, geralmente os sintomas apresentados são: baixa-estima, sentimento culposo sem causa definida, intolerância às perdas e frustrações, extrema submissão ao julgamento dos outros, sentimento de perda do amor e um estado de desejo inalcançável.
Depressão por perda
Basicamente, existem 3 tipos de depressão relacionadas à perda:
Perda do objeto necessitado - nessa categoria a pessoa perde um objeto real ou fantasiado, que é amado e odiado, e depois é substituído por um objeto mau de seu interior, que o menospreza, reduz a sua estima e deixa a pessoa totalmente desamparado;
Perda de um objeto que resguarda a autoestima do indivíduo - existem pessoas que necessitam de outros para serem amadas e valorizadas., sendo dependentes das pessoas que as valorizem, quando há a perda da pessoa que presta a esse papel, há uma terrível sensação de falta e que não será capaz de viver sem elas;
Perda do ego- nessa situação não só há a perda do objeto amado (pais, amigos que envelhecem ou filhos que saem de casa), como há a perda das funções do ego (atributo de beleza, força física, etc.). Nesses casos há uma intensa projeção identificativa da pessoa com outras que tem o atributo que agora lhe falta, com consequente esvaziamento e empobrecimento do seu próprio ego.
Depressão por culpa
Na depressão causada pela culpa, o grau de intensidade vai depender dos fatores culposos, que podem ser: um superego rígido, o ódio do ego pelo ID, a culpa imputada pelos outros, à obtenção de êxitos, à incapacidade reparatória do ego e o fato de assumir a culpa dos outros.
Indivíduos que possuem um superego rígido e tirano, embora estejam protegidos por uma estrutura obsessiva, tendem a desenvolver quadros depressivos. Muitas pessoas se sentem culpadas por alcançarem êxitos que seus entes queridos não conseguiram e entram em estado depressivo. Também é bastante comum na clínica, pessoas que assumem a culpa de outros na infância, e reinvestem o ódio acumulado em si ao invés de despejar em outros (no caso no psicanalista).
Na análise deve ser trabalhado o fortalecimento do ego, através do questionamento das imposições de um superego tirano e da culpa imputada por outras, que foi internalizado na infância.
Depressão decorrente do fracasso narcisista
Muitas vezes a pessoa se encontra fixada na posição narcísica, em que há uma forte idealização do eu, que não corresponde ao eu real. Nessa posição a pessoa necessita o tempo todo ser validada pelo outro. Com a perda do objeto validador o indivíduo inicia um processo depressivo. Uma vez que há a falta de alguém que o elogie, que o aplauda, ou que reassegura a sua estima, o indivíduo entra em depressão.
Indivíduos narcisistas tem uma ordem psíquica binária, ou ele é o melhor, ou é o pior. De forma que ele vive se comparando com os demais, sendo que o sucesso do outro é um fator de intensa frustração, humilhação e derrota, um desencadeador da depressão.
Nesses casos, o analista precisa trabalhar com o analisando o seu ego idealizado e o ideal do ego (aquilo que ele imagina que a sociedade determina que ele seja). Embora seja penoso para o analisando, no processo analítico deverá se fazer uma desconstrução da fantasia narcísica em pró de um eu real. De forma que o analisando passe a enxergar a realidade e reduza o sofrimento pela impossibilidade do que ele jamais foi ou será.
Depressão por identificação patógena
Na infância o sujeito pode acabar se identificando com um dos pais que são depressivos, de modo que ele assume a culpa pela enfermidade psíquica dos pais. Esse tipo de identificação introjetada pode levar a pessoa a uma depressão culposa. O indivíduo passa a pensar que se não for deprimido não será fiel e companheiro dos seus pais. Por esse motivo, é importante que o terapeuta realize junto ao analisando um processo de desidentificação. Com o cuidado de se manter aquilo que parece bom, que foi internalizado a partir do objeto amado (os pais), daquilo que parasita o ego do indivíduo e que deve ser abandonado.
Você imaginava que a depressão poderia ter tantas causas? A estruturação de nossa personalidade na infância pode determinar quais processos patológicos psíquicos iremos enfrentar na fase adulta e na velhice. É por isso, qua o processo analítico é importante !