Formas de amar e relacionamentos abusivos
Pela Dra. Claudia Maquiaveli
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Em Narcisismo, uma introdução, 1914, Freud aborda as formas na qual podemos amar, ou seja, como fazemos as escolhas de objeto. Lembrando que em psicanálise as relações de objeto ocorrem entre pessoas. Dessa forma, segundo Freud, uma pessoa pode amar conforme o tipo narcisista: ama o que ela é (isto é, ela mesma), o que ela própria foi, o que ela gostaria de ser, alguém que uma vez fez parte dela. Por outro lado, o amar pode ser do tipo anaclítico, amor de ligação, baseado no cuidado ao outro. O mais importante é podermos reconhecer essas duas formas de amar em nós. Tem pessoas que são incapazes de escolha de um amor anaclítico, um amor que envolve cuidado e proteção. Esse amor nos permite reconhecer o outro como diferente de nós, e permite que esse outro seja ele mesmo, não importa se nos agrade ou não. O que acontece é que muitos parceiros e parceiras, incapazes de amar anacliticamente, amam de forma narcísica com cara de cuidado, "amam" e "cuidam" do parceiro desde que este corresponda a todas as suas expectativas. O que é claramente, impossível! É importante perceber que se cobro das pessoas com quem me relaciono reconhecimento, adoração e ser o único objeto de seu desejo, estou em uma posição narcísica do amor. É claro, que é preciso ter o amor narcísico, mas que sejamos capazes de abdicar dele em certos momentos, para podermos amar outro (parceiro, filho, amigo, irmãos, pessoas). As pessoas não estão conseguindo prescindir do seu narcisismo para poder se ligar ao outro. No entanto, tem gente que abre mão quase que completamente do amor narcísico para ser apenas cuidador dos outros. Precisamos ter equilíbrio, para podermos nos amar e amar ao outro. O que tenho observado na clínica é que os relacionamentos têm sido uma grande fonte de sofrimento. Principalmente, quando há um relacionamento entre uma pessoa que quer exercer controle total sobre o outro, e uma pessoa que acha que esse controle é cuidado.
Em Narcisismo, uma introdução, 1914, Freud aborda as formas na qual podemos amar, ou seja, como fazemos as escolhas de objeto. Lembrando que em psicanálise as relações de objeto ocorrem entre pessoas. Dessa forma, segundo Freud, uma pessoa pode amar conforme o tipo narcisista: ama o que ela é (isto é, ela mesma), o que ela própria foi, o que ela gostaria de ser, alguém que uma vez fez parte dela. Por outro lado, o amar pode ser do tipo anaclítico, amor de ligação, baseado no cuidado ao outro. O mais importante é podermos reconhecer essas duas formas de amar em nós. Tem pessoas que são incapazes de escolha de um amor anaclítico, um amor que envolve cuidado e proteção. Esse amor nos permite reconhecer o outro como diferente de nós, e permite que esse outro seja ele mesmo, não importa se nos agrade ou não. O que acontece é que muitos parceiros e parceiras, incapazes de amar anacliticamente, amam de forma narcísica com cara de cuidado, "amam" e "cuidam" do parceiro desde que este corresponda a todas as suas expectativas. O que é claramente, impossível! É importante perceber que se cobro das pessoas com quem me relaciono reconhecimento, adoração e ser o único objeto de seu desejo, estou em uma posição narcísica do amor. É claro, que é preciso ter o amor narcísico, mas que sejamos capazes de abdicar dele em certos momentos, para podermos amar outro (parceiro, filho, amigo, irmãos, pessoas). As pessoas não estão conseguindo prescindir do seu narcisismo para poder se ligar ao outro. No entanto, tem gente que abre mão quase que completamente do amor narcísico para ser apenas cuidador dos outros. Precisamos ter equilíbrio, para podermos nos amar e amar ao outro. O que tenho observado na clínica é que os relacionamentos têm sido uma grande fonte de sofrimento. Principalmente, quando há um relacionamento entre uma pessoa que quer exercer controle total sobre o outro, e uma pessoa que acha que esse controle é cuidado.
Para entendermos melhor essas relações, precisamos compreender que pessoas com fortes traços narcísicos não desenvolveram seu narcisismo primário de forma saudável, pois tiveram pais incapazes de se posicionar de forma anaclítica. Esses pais não conseguiram renunciar a seu narcisismo para criar os filhos. Os tipos narcísicos desenvolveram mecanismos de defesa psíquica baseados em um falso eu, carregado de insegurança, onipotência, arrogância e até mesmo crueldade. Por outro lado, o outro que aceita esse tipo de amor, é alguém que também não foi reconhecido em seu narcisismo, mas que se dispôs a cuidar dos pais e corresponder a tudo o que eles queriam. Essas são escolhas inconscientes que fazemos na primeira infância, diante do que recebemos de cuidado parental e que nos levam a nos relacionarmos da mesma forma que nos relacionávamos com nossos pais. Portanto, amar equilibradamente é um estado de arte que pode implicar em ter que desconstruir aquilo que nossos pais nos deram como herança psíquica. É preciso reconhecer se estamos muito deslocados para uma dessas posições, para que se possa quebrar o ciclo de violência desse tipo de relação objetal. Um dos principais objetivos de um processo analítico é se libertar dessas formas extremas de amar.
Para entendermos melhor essas relações, precisamos compreender que pessoas com fortes traços narcísicos não desenvolveram seu narcisismo primário de forma saudável, pois tiveram pais incapazes de se posicionar de forma anaclítica. Esses pais não conseguiram renunciar a seu narcisismo para criar os filhos. Os tipos narcísicos desenvolveram mecanismos de defesa psíquica baseados em um falso eu, carregado de insegurança, onipotência, arrogância e até mesmo crueldade. Por outro lado, o outro que aceita esse tipo de amor, é alguém que também não foi reconhecido em seu narcisismo, mas que se dispôs a cuidar dos pais e corresponder a tudo o que eles queriam. Essas são escolhas inconscientes que fazemos na primeira infância, diante do que recebemos de cuidado parental e que nos levam a nos relacionarmos da mesma forma que nos relacionávamos com nossos pais. Portanto, amar equilibradamente é um estado de arte que pode implicar em ter que desconstruir aquilo que nossos pais nos deram como herança psíquica. É preciso reconhecer se estamos muito deslocados para uma dessas posições, para que se possa quebrar o ciclo de violência desse tipo de relação objetal. Um dos principais objetivos de um processo analítico é se libertar dessas formas extremas de amar.
Mas não pensem que é fácil, é preciso tempo e paciência. O que leva anos de análise. Uma vez que o narcisista precisa ser amado e o co-dependente precisar cuidar! Esse conluio pode ser regado por muito desejo e gozo. Você pode se perguntar: qual dos dois tipos sofrem mais, qual está em maior estado de gozo? A resposta é os dois. Talvez uma das diferenças seja que construir um amor narcísico e abandonar o excesso de cuidado pode ser uma construção possível, desde que a pessoa se reconheça nessa posição faltosa. Por outro lado, traços narcísicos muito fortes são muito difíceis de serem quebrados, podem ser minimizados na análise, mas improváveis de serem reconhecidos pelo sujeito. Geralmente, a pessoa com traços narcísicos muito fortes tem sucesso profissional e são muito reconhecidas em nossa sociedade, o que aumenta mais ainda a onipotência e a certeza de que está "certa" em sua forma de amar, apesar do sofrimento. Mas a questão mais importante é: será que você se reconhece nessas formas de amar? Será que você é capaz de equilibrar o amor?
Mas não pensem que é fácil, é preciso tempo e paciência. O que leva anos de análise. Uma vez que o narcisista precisa ser amado e o co-dependente precisar cuidar! Esse conluio pode ser regado por muito desejo e gozo. Você pode se perguntar: qual dos dois tipos sofrem mais, qual está em maior estado de gozo? A resposta é os dois. Talvez uma das diferenças seja que construir um amor narcísico e abandonar o excesso de cuidado pode ser uma construção possível, desde que a pessoa se reconheça nessa posição faltosa. Por outro lado, traços narcísicos muito fortes são muito difíceis de serem quebrados, podem ser minimizados na análise, mas improváveis de serem reconhecidos pelo sujeito. Geralmente, a pessoa com traços narcísicos muito fortes tem sucesso profissional e são muito reconhecidas em nossa sociedade, o que aumenta mais ainda a onipotência e a certeza de que está "certa" em sua forma de amar, apesar do sofrimento. Mas a questão mais importante é: será que você se reconhece nessas formas de amar? Será que você é capaz de equilibrar o amor?
Freud, S. A história do movimento psicanalítico, artigos sobre a metapsicologia e outros trabalhos, 1914. Rio de Janeiro: Imago Ed. 1996, vol. XIV. p. 81-122.
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